Dor no Quadril

 
 
 
 
 
 *Gilberto Antônio da Costa Júnior

*Fisioterapeuta Quiropraxista, Diplomado em RTO.

6 DICAS PARA ALIVIAR AS DORES NO QUADRIL - Instituto Fuchs

Será que as dores da síndrome do impacto femoroacetabular são realmente oriundas da articulação do quadril? Será que as alterações ósseas do tipo cam, pincer e mixer são as responsáveis pela manifestação álgica ou são respostas adaptativas ao esforço do desportista?

Revisando a literatura nos deparamos com alguns estudos que tentam responder essas questões. Primeiramente, é necessário lembrarmos que as alterações morfológicas fazem parte da síndrome do impacto femoroacetabular, um distúrbio clínico relacionado ao movimento do quadril, composto por uma tríade – sintomas, sinais clínicos, e achados de imagem. Segundo Silva e colaboradores (2020) a síndrome divide-se em três subtipos clínicos: came (alteração morfológica femoral), pincer (alteração morfológica acetabular), e misto ou mixer (combinação das duas primeiras). Na fisiopatologia da síndrome, existe o contato anormal das estruturas ósseas que compõe a articulação (extremidade proximal do fêmur e acetábulo durante os extremos de amplitude de movimento de quadril) que, de forma repetida, pode gerar lesões progressivas no lábio e na cartilagem acetabular. O principal sintoma da síndrome é a dor na região inguinal e do quadril, além de alterações funcionais em todo membro inferior, tais como redução de amplitude de movimento (ADM), mudanças na produção de força, controle neuromuscular, marcha e tarefas esportivas mais intensas.

Frantz e colaboradores (2016) perceberam uma prevalência maior de alterações morfológicas no quadril de atletas profissionais de hóquei quando comparada a praticantes amadores. Segundo Langner e colaboradores (2020) outros esportes também apresentam prevalências de alterações morfológicas parecidas com atletas do hóquei, como no caso de polo aquático e nado sincronizado (67,5 % da amostra pesquisada apresentou alteração do tipo CAM e 22,5% do tipo pincer).

Langner e colaboradores (2020), compararam características clínicas e radiográficas entre quadril sintomático e assintomático em pacientes com síndrome do impacto femoroacetabular unilateral e observaram redução de rotação medial e aumento do índice de retroversão acetabular no quadril sintomático, bem como associação entre o longo tempo de sintoma e índice de massa corpórea (IMC) elevado com perda de rotação medial dos quadris.

Matthew e colaboradores (2011), avaliaram 21 jogadores profissionais e 18 jogadores universitários de hóquei no gelo, para descobrir se existiam alterações estruturais em atletas não sintomáticos. Foi observado que 64% da amostra tinha alterações patológicas do quadril sugerindo a necessidade de interpretar com cautela o significado dos achados de imagem.

Esses dados foram corroborados por Josefin e colaboradores (2020) que investigaram a correlação entre alteração morfológica do tipo came, dor no quadril e nível de atividade em jovens esquiadores (esse estudo teve um acompanhamento de 5 anos). Nenhuma correlação ou baixa correlação foi encontrada entre o nível de atividade, frequência, alteração morfológica do tipo came e dor no quadril. Contudo, este estudo destaca que quase 75% dos jovens esquiadores de elite se aposentaram de sua carreira com quase 50% relatando que isso se deveu a lesões causados pelo esporte. Mas se existe baixa ou nenhuma correlação de alteração morfológica e dor, de onde vem o quadro álgico apresentado nessa síndrome?

É claro que as estruturas articulares em si podem causar dor. Sabemos que o osso subcondral é bastante inervado e o choque sucessivo pode inflamar a região liberando substâncias químicas que sensibilizariam a região. Segundo Diamond (2015) esta população realiza compensações nos planos frontal, sagital, e transversal durante atividades dinâmicas comparadas a controles assintomáticos gerando sobrecarga na articulação do quadril. Porém, não podemos esquecer das estruturas extracapsulares, composta pelos músculos que fazem a estabilização dinâmica da região e que podem ficar sobrecarregados protegendo a articulação. Essa sobrecarga normalmente causa pontos de tensão, definido como pontos gatilho. Travells e Simons (1992) definem esses como um ponto hiper irritável localizados dentro de uma banda neuromuscular tensa. Esses pontos também possuem como características dor referida em regiões adjacentes ou distantes ao ponto. O iliopsoas, por exemplo, é um músculo que causa dor referida para região inguinal e femoroacetabular, assim como os adutores curto, longo e mágno. Não podemos deixar de pensar que diante de uma inatividade, inibição ou até mesmo fraqueza dos abdutoes os adutores, provavelmente, estarão em estado de hiperatividade, com a possibilidade de existirem pontos gatilhos miofasciais e dor exatamente nessa região.

Fica aqui a reflexão sobre a possibilidade de explorarmos estruturas extra articulares do quadril com uma visão diferente, visando neutralizar as forças que causam impacto. Em poucas linhas não é possível analisar a complexidade da avaliação e tratamento das lesões do quadril. Portanto encorajamos a todos a continuarem pela busca do aprimoramento clínico e científico. Como forma de estímulo deixamos abaixo uma lista de artigos para atualização. Esperamos que gostem. Até a próxima!

Recomendações Bibliográficas:

Abrahamson et. al. Hip pain and its correlation with cam morphology in young skiers—a minimum of 5 years follow-up. Abrahamson et al.  Journal of Orthopaedic Surgery and Research (2020). https://doi.org/10.1186/s13018-020-01952-8

Bagwell, Fukuda & Powers. Sagittal plane pelvis motion influences transverse plane motion of the femur: Kinematic coupling at the hip joint. Gait and Posture (2016).  http://dx.doi.org/10.1016/j.gaitpost.2015.09.010

Langner et. al. The prevalence of femoroacetabular impingement anatomy in Division 1 aquatic athletes who tread water. Journal of Hip Preservation Surgery Vol. 7, No. 2, pp. 233–241. March 2020. Doi: 10.1093/jhps/hnaa00

Lerebours et. al. Prevalence of Cam-Type Morphology in Elite Ice Hockey Players. The American Journal of Sports Medicine, Vol. 44, No. 4. 2016. DOI: 10.1177/0363546515624671

Packer & Safran. The etiology of primary femoroacetabular impingement: genetics or acquired deformity? Journal of Hip Preservation Surgery Vol. 2, No. 3, pp. 249–257. June 2015. Doi: 10.1093/jhps/hnv046

Philippi et. Al. Leg dominance as a risk factor for femoroacetabular impingement syndrome. Journal of Hip Preservation Surgery Vol. 7, No. 1, pp. 22–26, February 2020. Doi: 10.1093/jhps/hnaa007.

Reis et. Al. Radiological examination of the hip  clinical indications, methods, and interpretation: a clinical commentary. The International Journal of Sports Physical Therapy | Volume 9, Number 2 | April 2014 | Page 256

Siebenrock et. al. Prevalence of Cam-Type Deformity and Hip Pain in Elite Ice Hockey Players Before and After the End of Growth. The American Journal of Sports Medicine, Vol. 41, No. 10. 2013. DOI: 10.1177/0363546513497564

Silva et. Al. Aspectos clínicos e radiográficos de pacientes com síndrome do impacto femoroacetabular: Há diferença entre quadril sintomático e assintomático? Rev Bras Ortop 2020;55(2):247–253. DOI https://doi.org/10.1055/s-0039-3400519.

Silvis et al. High Prevalence of Pelvic and Hip Magnetic Resonance Imaging Findings in Asymptomatic Collegiate and Professional Hockey Players. The American Journal of Sports Medicine, Vol. 39, No. 4, 2011 / DOI: 10.1177/0363546510388931

Tramer et.al. On-Ice Functional Assessment of an Elite Ice Hockey Goaltender After Treatment for Femoroacetabular Impingement. Sports health, vol. 7 • no. 6, Nov • Dec 2015 / DOI: 10.1177/1941738115576481.

Weber et. al. Return to Sport After Hip Arthroscopy for Femoroacetabular Impingement Syndrome in NCAA Division I Athletes. Experience at a Single Institution. The Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 8(5), ano. 2020. DOI: 10.1177/2325967120918383

Yazbek et. al. Nonsurgical Treatment of Acetabular Labrum Tears: A Case Serieschondral. | may 2011 | volume 41 | number 5 | journal of orthopaedic & sports physical therapy.